Para Reflexão... Como queremos a Terra no futuro????
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Lua, Colônia 243, apt. 12, 23/02/2066
Querida Vovó
Desculpe demorar tanto pra escrever. A senhora sabe como tudo fica confuso por aqui qdo há um eclipse como o da semana passada.
Os equipamentos de comunicação têm muita interferência, e as linhas espaciais só podem ser usadas pelas equipes médicas e pela polícia. Estou com saudade. Faz tempo que meu pai está na unidade de Produção de Água. Eles têm muito trabalho por lá.
Mamãe foi passar o fim-de-semana em Saturno. Odeio aquilo. Só tem loja de roupas e naves espaciais. Um monte de gente brigando pra pusar numa vaga daqueles anéis! Putz! Preferi ficar em casa.
Acho que a senhora sabe que eu passei pra um novo estágio no curso de História da Terra. Agora nós estamos estudando o século passado, aquele em que a senhora e o vovô nasceram.
Sabe que eu fiquei meio assim, viu... é, nós aprendemos que as pessoas conseguiam respirar por aí sem ajuda da máscaras, que podiam tomar banho de mar sem queimar a pele e, o mais incrível, cada bicho era diferente.
Tinha cachorros, gatos e galinhas de cores e tamanhos variados, bois com chifres, magros, gordos, malhados e de mais um monte de jeito!
Não era assim tudo clonado, igualzinho, só pra gente ter carne, leite e ovos.
Tinha até plantas, não é mesmo?! E as pessoas podiam comê-las e tudo!
Achei tudo isso tão incrível que pensei que o computador estivesse com probloemas ou brincando comigo...
Eu também fiquei pensando na infância da senhora e do vovô, lá no século passado, tipo assim, 1996 ou 1997, quando vocês diziam que era possível brincar na rua ou viajar pra um sítio por estrada de solo.
Eu sei que vocês eram só duas pessoas, que cada vez foi tendo mais gente e, pra conseguir tudo o que todo mundo precisava foi ficando cada vez mais complicada a vida terrestre.
Mas é que eu tenho de fazer um trabalho e queria fazer umas perguntas: quando a senhora e o vovô eram crianças que nem eu sou agora, vocês imaginavam que as coisas podiam ser diferentes do que ficaram?
Será que não dava pra parar e pensar um puco no modo como vocês deixaram estragar a Terra, por exemplo?
Não tô acusando vocês de nada, mas eu tenho essa curiosidade, sabe?
Bom, agora está na hora de a minha turma entrar na Unidade de Diversões. A gente vai jogar futebol eletrõnico, e a quadra está sempre cheia! Não deixe de me responder, tá? Um beijão, do seu neto
Lunar.
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Fernando Bonassi - escritor e roteirista. Transcrito de Folha de S.Paulo, 13/09/1997, Folhinha p. 3)
Querida Vovó
Desculpe demorar tanto pra escrever. A senhora sabe como tudo fica confuso por aqui qdo há um eclipse como o da semana passada.
Os equipamentos de comunicação têm muita interferência, e as linhas espaciais só podem ser usadas pelas equipes médicas e pela polícia. Estou com saudade. Faz tempo que meu pai está na unidade de Produção de Água. Eles têm muito trabalho por lá.
Mamãe foi passar o fim-de-semana em Saturno. Odeio aquilo. Só tem loja de roupas e naves espaciais. Um monte de gente brigando pra pusar numa vaga daqueles anéis! Putz! Preferi ficar em casa.
Acho que a senhora sabe que eu passei pra um novo estágio no curso de História da Terra. Agora nós estamos estudando o século passado, aquele em que a senhora e o vovô nasceram.
Sabe que eu fiquei meio assim, viu... é, nós aprendemos que as pessoas conseguiam respirar por aí sem ajuda da máscaras, que podiam tomar banho de mar sem queimar a pele e, o mais incrível, cada bicho era diferente.
Tinha cachorros, gatos e galinhas de cores e tamanhos variados, bois com chifres, magros, gordos, malhados e de mais um monte de jeito!
Não era assim tudo clonado, igualzinho, só pra gente ter carne, leite e ovos.
Tinha até plantas, não é mesmo?! E as pessoas podiam comê-las e tudo!
Achei tudo isso tão incrível que pensei que o computador estivesse com probloemas ou brincando comigo...
Eu também fiquei pensando na infância da senhora e do vovô, lá no século passado, tipo assim, 1996 ou 1997, quando vocês diziam que era possível brincar na rua ou viajar pra um sítio por estrada de solo.
Eu sei que vocês eram só duas pessoas, que cada vez foi tendo mais gente e, pra conseguir tudo o que todo mundo precisava foi ficando cada vez mais complicada a vida terrestre.
Mas é que eu tenho de fazer um trabalho e queria fazer umas perguntas: quando a senhora e o vovô eram crianças que nem eu sou agora, vocês imaginavam que as coisas podiam ser diferentes do que ficaram?
Será que não dava pra parar e pensar um puco no modo como vocês deixaram estragar a Terra, por exemplo?
Não tô acusando vocês de nada, mas eu tenho essa curiosidade, sabe?
Bom, agora está na hora de a minha turma entrar na Unidade de Diversões. A gente vai jogar futebol eletrõnico, e a quadra está sempre cheia! Não deixe de me responder, tá? Um beijão, do seu neto
Lunar.
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Fernando Bonassi - escritor e roteirista. Transcrito de Folha de S.Paulo, 13/09/1997, Folhinha p. 3)
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