O Brasil ganha pontos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), mas continua abaixo da média e atrás de quase todos os outros países do ranking. Até quando?
Por Marcos Graciani
O Brasil melhorou seu desempenho no último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) – teste desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde), que aplica questões de matemática, ciências e leitura. A pontuação brasileira foi a terceira que mais cresceu – 33 pontos, chegando a 401. Pode parecer alentador para um país acostumado a levar bomba nos testes internacionais de educação. Mas não é. Hoje, o país ocupa a nada honrosa 57a posição no Pisa, à frente de apenas oito países. A China, primeira colocada, totalizou 556 pontos. Se o Pisa fosse um campeonato de futebol, o Brasil estaria bem próximo da zona de rebaixamento.
Se analisados regionalmente, os resultados do Pisa mostram os Estados do sul um pouco melhores que a média nacional. O destaque fica por conta de Santa Catarina, que perde apenas para o Distrito Federal (veja tabela ao lado). A despeito da evolução, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho no desafio de preparar melhor seus estudantes com até 15 anos – que formam o público-alvo dos testes da Ocde.
Mesmo tendo melhorado nas três disciplinas, o Brasil ainda apresenta problemas básicos. O mais grave deles é na matemática: mais de 60% dos alunos brasileiros estão abaixo do “nível 1” da escala Pisa – quando o mínimo esperado seria atingir a média do “nível 2”. “Isso significa que nossos alunos de 15 anos estão chegando ao final do ensino fundamental sem dominar as competências e habilidades que deveriam ter aprendido até a 5ª série”, esclarece Maria Helena Guimarães de Castro, membro do Conselho Acadêmico Consultivo da Pearson Sistemas de Ensino do Brasil.
No âmbito da leitura, fica evidente a necessidade da criação de um indicador nacional de alfabetização. Só assim será possível medir com precisão se as crianças de até 8 anos de idade deixam a 2ª série do ensino fundamental sabendo, de fato, ler e escrever. A Coreia do Sul mostra como chegar lá: entre 2000 e 2006, o desempenho dos estudantes evoluiu significativamente, de 525 para 556 – suficiente para colocar o país na liderança dessa disciplina no Pisa. As escolas coreanas estimulam exaustivamente o hábito de ler e escrever. Também aplicam um modelo de provas diferenciado, com ênfase em perguntas abertas e dissertativas – que exigem do estudante a capacidade de construir e expressar um raciocínio. Outra estratégia de sucesso é o incentivo à leitura em voz alta na sala de aula e a realização de peças de teatro com a participação dos alunos.
Salto planejado
Felizmente, o Brasil não está parado. Um dos objetivos traçados pelo Plano Brasil 2022, do governo federal, é elevar a nota dos estudantes brasileiros no Pisa para 473 pontos – um salto de 72 pontos em uma década, bem superior aos 33 alcançados entre 1999 e 2009. Para tanto, o plano prevê um novo modelo educacional que atinja desde o ensino fundamental ao superior. “Os problemas começam na alfabetização, na infância, e passam pelo ensino médio, que tem um formato aberto demais, criando um inchaço curricular e pouco atraente”, destaca Gustavo Ioschpe, economista especializado em educação. Para ele, uma solução possível é expandir a oferta de cursos profissionalizantes de período mais curto nas universidades. “Hoje, a oferta ainda é pequena, o que nos faz ter uma taxa de matrícula nas universidades inferior à de outros países”, garante.
A desigualdade do sistema de ensino é outro agravante – basta passar os olhos nos indicadores do Pisa. Enquanto os estudantes de escolas particulares alcançam a média de 502 pontos, os da rede pública estacionam nos 387 pontos. Um dos fatores que pesam a favor do ensino privado está na dispobilidade de recursos humanos. Nas escolas particulares, os professores são mais qualificados e o material didático, mais completo do que o oferecido pelo Estado. No entanto, em alguns casos, mesmo os professores que lecionam em escolas particulares carecem de formação adequada. Do total de 1,9 milhão de docentes brasileiros, 32,1% trabalham sem diploma universitário. As piores estatísticas são as das regiões norte e nordeste, onde quase metade dos professores atua sem formação superior. Já no sudeste, sul e centro-oeste, os sem diploma representam 20% do total, conforme os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Para alcançar as metas traçadas até 2022, o plano parte do princípio de que apostar na formação de professores é fundamental. Especialistas em educação citam a Finlândia como benchmark. O país procurou atrair jovens talentos para a área docente por meio de um plano de carreira pautado em bons salários, carreira estável e meritocracia. Os esforços deram certo: hoje, cerca de 20% dos alunos mais preparados do ensino médio acabam se tornando professores. Já no Brasil, a falta de qualificação do quadro docente faz com que os estudantes brasileiros se sintam desanimados não só para ensinar, mas até para aprender. De acordo com dados do Movimento Todos pela Educação, 40% dos alunos desistem do ensino médio por desmotivação. “Também é preciso oferecer temas que caibam na vida dos estudantes, ou seja, um currículo mais próximo da realidade”, critica Mozart Neves Ramos, conselheiro do Movimento Todos pela Educação, do qual AMANHÃ é apoiadora.
Alento
Ainda que existam muitas barreiras a serem vencidas, há quem louve o esforço do governo em avaliar o ensino nacional. Práticas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Prova Brasil são vistos como molas propulsoras da busca por uma didática de melhor qualidade. “Ainda que o Enem tenha tido alguns acidentes de percurso, o automóvel está no caminho certo”, compara Luiz Roberto Curi, diretor nacional de ensino superior e pesquisa do Sistema Educacional Brasileiro (SEB).
Outro ponto importante na busca pelo estado da arte do sistema educacional é o surgimento de grupos como o Movimento Todos pela Educação, que reúne empresários interessados em qualificar a educação no Brasil. Uma das missões do grupo é fazer com que os pais participem ativamente da vida escolar dos filhos – especialmente nas famílias de baixa renda. Outra frente está em um relatório lançado em dezembro, no qual o movimento ergue cinco bandeiras para viabilizar o cumprimento das metas educacionais. A mais importante será fazer com que o Inep – responsável por aplicar a Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) – se responsabilize por gerar um relatório com os principais diagnósticos mostrados nos testes em cada escola. “Desta maneira saberemos onde está a deficiência do professor”, propõe Ramos, do Movimento Todos pela Educação.
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Fonte: http://networkedblogs.com/fgyut
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