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quinta-feira, julho 09, 2015

DJAVANEANDO

Silvana Maria Moreli

Aí você acorda às 08h30. Afinal, férias é (também) pra isso: acordar mais tarde, não ter compromisso com o relógio, fazer o que quiser, quando e como quiser... Enfim.
Dia nublado, friozinho gostoso... De repente, me vejo assim, "djavaneando": "Um dia frio / um bom lugar pra ler um livro / e o pensamento lá em você...". Decidi: hoje o dia vai ser maravilhoso!
Vou à padaria! Friozinho, pãozinho quente, café, capuccino... Hummm! Férias e friozinho é (também) pra isso: aguçar o paladar... aumentar o apetite! Aí penso como seria bom comer à vontade sem a preocupação com a quantidade de calorias que estão sendo ingeridas e o que isso pode representar na balança... 
Tiro o carro da garagem, ligo o rádio e, de repente, Djavan! "Eu levo a sério, mas você disfarça / Você me diz à beça e eu nessa de horror / E me remete ao frio que vem lá do sul... ". Coincidência? 
Não há muitos carros na rua, assim como também não há muitas pessoas... mas vejo à minha frente dois jovens, em pé, no meio da rua, olhando para o celular e rindo. Eles se movimentam, gesticulam... Estão de costas para mim. Não há como desviar. Reduzo ainda mais a velocidade. Penso em buzinar, mas fico preocupada com o susto que ambos poderiam levar. Por que não estão na calçada? Cheguei bem perto. Eles se viram lentamente e um dos rapazes olha para mim, pronuncia alguns xingamentos e pergunta aos gritos por que não buzinei a "porcaria" do carro... Fico atônita, não pronuncio uma só palavra e sigo meu caminho até a padaria - eu e a minha indignação. Talvez eu devesse pedir desculpas aos jovens por atrapalhá-los. Que atrevimento o meu! 
O estacionamento da padaria está lotado. Acho que as pessoas decidiram acordar mais tarde, afinal, julho é mês de férias, mas, especificamente hoje, é feriado. Decidi lá no início, quando me lembrei do Djavan, que nada (nem ninguém) tiraria o meu bom humor. Então, vamos caminhar... Cumprimento as meninas que estão no Caixa e me direciono ao balcão. Há uma pequena fila para a compra dos pães. Apenas três pessoas na minha frente. Quer dizer, quatro, já que um rapaz chega e "fura a fila"... Penso em questioná-lo. Como assim? Vou confessar: fiquei com uma "preguiça" enorme de me indispor... criar um conflito. Resolvi "deixar para lá". 
Voltando para casa fico pensando no quanto os valores estão se perdendo. As pessoas estão, a cada dia que passa, mais intolerantes, perdendo a noção de educação, de respeito ao próximo... Sempre ouvi dizer que "o meu direito termina exatamente onde começa o do outro".  O que me chamou a atenção hoje, nas duas situações, é que os envolvidos estavam muito bem vestidos - impossível não notar. Infelizmente algumas pessoas ainda não se deram conta de que não basta usar boas roupas, de grife, portar o smartphone do momento, "top de linha", o mais caro... Isso é só a embalagem, a carcaça! Se o conteúdo não é bom, não agrada, não é aceito... a embalagem, a carcaça, estas surtirão efeito por um tempo, mas não se manterão - certamente se deteriorarão! Já o conteúdo de boa qualidade, independente da embalagem, jamais!
E o dia está apenas começando e eu sigo firme no propósito de não me aborrecer por nada (nem ninguém)... sigo "djavaneando"!

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