CRIANÇAS MUITO ESPECIAIS
Alunos com dislexia costumam passar por situações constrangedoras até que seja detectado o problema que os impede de acompanhar a turma; com o tratamento adequado, eles podem aprimorar o rendimento na escola
Rayanne Portugal
Quando o jovem Bruno Mesquita, 10 anos, entrou para a Escola, familiares e professores ficaram preocupados com as dificuldades enfrentadas pelo garoto para manter a concentração nas aulas da turma de alfabetização, por seu comportamento inquieto e a o relacionamento distante com demais colegas.
Mesmo sabendo que o filho sempre foi uma criança esperta, a corretora de seguros Andreia Mesquita ficava impaciente com o grande tempo que Bruno gastava para fazer as tarefas da Escola e chegou a acreditar que o menino estivesse desenvolvendo algum problema de saúde.
“Procuramos os professores dele e fui encaminhada para uma fonoaudióloga. Foi então que conseguimos confirmar que ele não estava doente, mas sofrendo de dislexia”, lembra Andreia. A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que causa dificuldades na leitura, na escrita e na soletração. O transtorno, na maioria dos casos, é identificado durante a infância e pode comprometer o desenvolvimento Escolar de crianças em período de alfabetização.
Gerada por condições genéticas e hereditárias, a dislexia tem raízes no padrão neurológico e não está relacionada à alfabetização deficiente, a deficiências intelectuais ou à personalidade da criança. “O disléxico não pode ser rotulado como burro. Pelo contrário, a maioria desenvolve habilidades múltiplas”, explica Alice Sumihara, psicoterapeuta e fonoaudióloga especialista em Educação.
Segundo a profissional, o problema se resume à dificuldade de decodificar e absorver informações seriadas. “Para o disléxico, a leitura não segue o sentido linear como para quem lê regulamente. Não há regra, ‘começar da esquerda, terminar à direita’. O disléxico dá voltas no texto, não consegue decodificar as informações de forma organizada, tendo que traçar um caminho bem mais longo até compreender a informação”, afirma.
Normalmente, a criança com dislexia domina a linguagem com atraso, é propensa a trocar letras e fonemas na hora de falar e escrever, apresenta dificuldades para organizar sequências numéricas, diferenciar cores e memorizar músicas.
Para diminuir o impacto de suas limitações, Bruno, aos 8 anos, mudou-se para uma Escolapreparada para atender alunos com dificuldades de aprendizagem e deu início à psicoterapia e acompanhamento médico. “Foi um processo lento de tratamento que segue até hoje, para que ele conseguisse ler e se relacionar melhor com os colegas de sala”, conta Andreia.
Ao conhecer o problema do filho, ela lembra que se sentiu perdida e culpada pela pressão sobre Bruno. “Cheguei a crer que meu filho fosse menos inteligente e acabei duvidando de sua capacidade”, conta. “Hoje ele pede para ler, pede que eu compre seus gibis e livros favoritos. Há algum tempo, nem poderíamos imaginar esse tipo de atitude vindo dele, o que me deixa muito mais feliz e orgulhosa.”
Descoberta
Desconfiada da grande dificuldade que o filho tinha de se relacionar com outras crianças e para desenvolver a fala aos 2 anos, a servidora pública Renata Livramento Freitas, 35, decidiu levar o pequeno Thiago, hoje com 9, a um profissional especializado. “Thiago falava com dificuldade, trocando sílabas e de forma embolada. A fonoaudióloga nos explicou que ainda era muito cedo para afirmar que ele tinha dislexia, mas que seu caso era de risco para o distúrbio”, explica.
Marilene Oliveira, especialista que acompanha o caso, explica que, para Thiago, o diagnóstico para confirmação da dislexia será fechado com o tempo. “Só é possível confirmar o problema em crianças que já estão em fase de alfabetização, já que a dislexia caracteriza-se pela falta de compreensão para informações escritas. Crianças com menos de 8 anos não recebem esse tipo de diagnóstico. São necessários vários meses e uma avaliação longa do histórico e da saúde do paciente, a fim de descartar qualquer outra possibilidade”, detalha.
Durante a fase de análise, são descartadas as doenças ligadas ao intelecto, problemas visuais e auditivos, entre outros. “Normalmente, o diagnóstico deve ser feito por equipe multidisciplinar, devendo a criança ser avaliada por um pediatra ou neuropediatra, psicólogo ou psicopedagogo, e fonoaudiólogo.”
A mãe acredita que a descoberta precoce ajudou na evolução de Thiago: “Ele sabe que, de alguma forma, é diferente e que sempre terá que se esforçar mais que os outros. Acho que ele nem sabe o significado de dislexia, o que por um lado é bom: ele sabe que é normal, e sofre menos do que outras crianças com o mesmo problema”. Camila Hayashi, psicopedagoga especializada em distúrbios de aprendizagem, explica que o tratamento precoce auxilia o disléxico a chegar a uma idade adulta com menos dificuldades para conviver com suas limitações.
“Quanto menos tempo levar para descobrir o problema, menos a pessoa estará suscetível a dificuldades emocionais e ansiedade ligadas à pressão de reaprender a ver o mundo de significados ao seu redor”, avalia.
Parceria
Neila Paim Dias, orientadora educacional do Colégio Ciman, explica que a participação daEscola é fundamental para diminuir as dificuldades vividas pelo estudante no ambiente das aulas e, por consequência, na vida pessoal.
“Esse aluno deve ser olhado de forma diferenciada. É um trabalho de dedicação, no qual o professor deve ter a preocupação principal de garantir que ele compreenda as explicações sem interferir na autonomia doaluno, questionando sobre as necessidades, ajudando-o a ler sempre que necessário.”
Ticiane Alencar, orientadora educacional do Centro de ensino médio Setor Leste, lembra que é importante enfatizar que o aluno não está sendo tratado de forma diferenciada porque é menos capaz.
“Cabe ao professor evitar rótulos para que essa transição até aalfabetização seja tranquila para a criança. As avaliações para esse aluno serão diferenciadas, exigirão muitas vezes o apoio de um ledor, e na sala de aula a dinâmica será diferente. Mas o aluno deve ter reafirmada, a todo momento, sua capacidade de aprimoramento contínuo.”
Quando diagnosticada, a dislexia exige grande esforço, tanto da família quanto da Escola, para que o aluno se readapte à rotina Escolar e não perca a motivação para os estudos. “As crianças se sentem incapazes de realizar suas tarefas, sendo forçadas a lidar com medo, pressões e sentimentos de rejeição”, destaca Alice Sumihara.
“O pai deve estar atento ao que é feito na Escola. Bons médicos e profissionais da saúde, por outro lado, devem sair do trabalho feito no consultório e ajudar a orientar pais e professores, que às vezes estão despreparados para o desafio de ajudar a criança”.
Algumas Escolas particulares do DF contam com equipes de orientação pedagógica preparadas para atender crianças com dificuldades de aprendizagem, como a dislexia. Além disso, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe) oferece cursos de inclusão, em que professores aprendem a reconhecer as diferenças dos alunos e a trabalhar a socialização e a aprendizagem.
Na rede pública de ensino, as Escolas são atendidas por equipes especializadas de apoio à aprendizagem, ligadas à Subsecretaria deEducação Básica da Secretaria de Educação, lotadas prioritariamente em Escolas de ensino infantil, fundamental e em centros de ensino especial. Escolas que não contam com acompanhamento fixo podem solicitar atendimento aos Núcleos de Monitoramento Pedagógico das regionais de ensino, que encaminharão as demandas às equipes especializadas.
A Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape) oferece, em seus cursos para professores da rede pública, orientações técnicas para atendimento de alunos com deficit de aprendizagem. Profissionais interessados em cursos e orientações específicas também podem entrar em contato os coordenadores de formação da Eape.
Dislexia
Algumas indicações
» Parentes próximos (até terceiro grau) que tenham dislexia
» Atraso na fala
» Troca de sílabas, dificuldade de diferenciar direita/esquerda, par/ímpar, informações sequenciais (como números e palavras), cores, dificuldade
em aprender músicas
» Falta de interesse por livros, desconcentração, dificuldade de socialização
Como ajudar
» Conteúdos da Escola devem ser revistos sempre, com ajuda do professor e com os pais
» Peça que a criança repita a ordem e o conteúdo com suas próprias palavras do que foi lido ou explicado, para estimular a memorização, grande aliada do disléxico
» Use material colorido e grande para aprendizado de letras e números
» Tenha paciência para que a criança cumpra suas tarefas, repetindo o comando se for necessário
» Encoraje a criança a solicitar ajuda e não ter vergonha de fazê-lo
» professores e amigos devem conhecer as limitações da criança e estimular seu aprendizado sem discriminação ou interferência em sua autonomia
» Enfatize as habilidades que a criança desenvolve em outras áreas
» Leia para seu filho, todos os dias, jornais e revistas de interesse
» Permita que use um apoio, como uma régua, para ler as linhas em sequência
» Encoraje a criança a deixar bilhetes ou avisos e a escrever cartinhas para amigos e familiares, sem se importar como isso será feito
Quando o jovem Bruno Mesquita, 10 anos, entrou para a Escola, familiares e professores ficaram preocupados com as dificuldades enfrentadas pelo garoto para manter a concentração nas aulas da turma de alfabetização, por seu comportamento inquieto e a o relacionamento distante com demais colegas.
Mesmo sabendo que o filho sempre foi uma criança esperta, a corretora de seguros Andreia Mesquita ficava impaciente com o grande tempo que Bruno gastava para fazer as tarefas da Escola e chegou a acreditar que o menino estivesse desenvolvendo algum problema de saúde.
“Procuramos os professores dele e fui encaminhada para uma fonoaudióloga. Foi então que conseguimos confirmar que ele não estava doente, mas sofrendo de dislexia”, lembra Andreia. A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que causa dificuldades na leitura, na escrita e na soletração. O transtorno, na maioria dos casos, é identificado durante a infância e pode comprometer o desenvolvimento Escolar de crianças em período de alfabetização.
Gerada por condições genéticas e hereditárias, a dislexia tem raízes no padrão neurológico e não está relacionada à alfabetização deficiente, a deficiências intelectuais ou à personalidade da criança. “O disléxico não pode ser rotulado como burro. Pelo contrário, a maioria desenvolve habilidades múltiplas”, explica Alice Sumihara, psicoterapeuta e fonoaudióloga especialista em Educação.
Segundo a profissional, o problema se resume à dificuldade de decodificar e absorver informações seriadas. “Para o disléxico, a leitura não segue o sentido linear como para quem lê regulamente. Não há regra, ‘começar da esquerda, terminar à direita’. O disléxico dá voltas no texto, não consegue decodificar as informações de forma organizada, tendo que traçar um caminho bem mais longo até compreender a informação”, afirma.
Normalmente, a criança com dislexia domina a linguagem com atraso, é propensa a trocar letras e fonemas na hora de falar e escrever, apresenta dificuldades para organizar sequências numéricas, diferenciar cores e memorizar músicas.
Para diminuir o impacto de suas limitações, Bruno, aos 8 anos, mudou-se para uma Escolapreparada para atender alunos com dificuldades de aprendizagem e deu início à psicoterapia e acompanhamento médico. “Foi um processo lento de tratamento que segue até hoje, para que ele conseguisse ler e se relacionar melhor com os colegas de sala”, conta Andreia.
Ao conhecer o problema do filho, ela lembra que se sentiu perdida e culpada pela pressão sobre Bruno. “Cheguei a crer que meu filho fosse menos inteligente e acabei duvidando de sua capacidade”, conta. “Hoje ele pede para ler, pede que eu compre seus gibis e livros favoritos. Há algum tempo, nem poderíamos imaginar esse tipo de atitude vindo dele, o que me deixa muito mais feliz e orgulhosa.”
Descoberta
Desconfiada da grande dificuldade que o filho tinha de se relacionar com outras crianças e para desenvolver a fala aos 2 anos, a servidora pública Renata Livramento Freitas, 35, decidiu levar o pequeno Thiago, hoje com 9, a um profissional especializado. “Thiago falava com dificuldade, trocando sílabas e de forma embolada. A fonoaudióloga nos explicou que ainda era muito cedo para afirmar que ele tinha dislexia, mas que seu caso era de risco para o distúrbio”, explica.
Marilene Oliveira, especialista que acompanha o caso, explica que, para Thiago, o diagnóstico para confirmação da dislexia será fechado com o tempo. “Só é possível confirmar o problema em crianças que já estão em fase de alfabetização, já que a dislexia caracteriza-se pela falta de compreensão para informações escritas. Crianças com menos de 8 anos não recebem esse tipo de diagnóstico. São necessários vários meses e uma avaliação longa do histórico e da saúde do paciente, a fim de descartar qualquer outra possibilidade”, detalha.
Durante a fase de análise, são descartadas as doenças ligadas ao intelecto, problemas visuais e auditivos, entre outros. “Normalmente, o diagnóstico deve ser feito por equipe multidisciplinar, devendo a criança ser avaliada por um pediatra ou neuropediatra, psicólogo ou psicopedagogo, e fonoaudiólogo.”
A mãe acredita que a descoberta precoce ajudou na evolução de Thiago: “Ele sabe que, de alguma forma, é diferente e que sempre terá que se esforçar mais que os outros. Acho que ele nem sabe o significado de dislexia, o que por um lado é bom: ele sabe que é normal, e sofre menos do que outras crianças com o mesmo problema”. Camila Hayashi, psicopedagoga especializada em distúrbios de aprendizagem, explica que o tratamento precoce auxilia o disléxico a chegar a uma idade adulta com menos dificuldades para conviver com suas limitações.
“Quanto menos tempo levar para descobrir o problema, menos a pessoa estará suscetível a dificuldades emocionais e ansiedade ligadas à pressão de reaprender a ver o mundo de significados ao seu redor”, avalia.
Parceria
Neila Paim Dias, orientadora educacional do Colégio Ciman, explica que a participação daEscola é fundamental para diminuir as dificuldades vividas pelo estudante no ambiente das aulas e, por consequência, na vida pessoal.
“Esse aluno deve ser olhado de forma diferenciada. É um trabalho de dedicação, no qual o professor deve ter a preocupação principal de garantir que ele compreenda as explicações sem interferir na autonomia doaluno, questionando sobre as necessidades, ajudando-o a ler sempre que necessário.”
Ticiane Alencar, orientadora educacional do Centro de ensino médio Setor Leste, lembra que é importante enfatizar que o aluno não está sendo tratado de forma diferenciada porque é menos capaz.
“Cabe ao professor evitar rótulos para que essa transição até aalfabetização seja tranquila para a criança. As avaliações para esse aluno serão diferenciadas, exigirão muitas vezes o apoio de um ledor, e na sala de aula a dinâmica será diferente. Mas o aluno deve ter reafirmada, a todo momento, sua capacidade de aprimoramento contínuo.”
Quando diagnosticada, a dislexia exige grande esforço, tanto da família quanto da Escola, para que o aluno se readapte à rotina Escolar e não perca a motivação para os estudos. “As crianças se sentem incapazes de realizar suas tarefas, sendo forçadas a lidar com medo, pressões e sentimentos de rejeição”, destaca Alice Sumihara.
“O pai deve estar atento ao que é feito na Escola. Bons médicos e profissionais da saúde, por outro lado, devem sair do trabalho feito no consultório e ajudar a orientar pais e professores, que às vezes estão despreparados para o desafio de ajudar a criança”.
Algumas Escolas particulares do DF contam com equipes de orientação pedagógica preparadas para atender crianças com dificuldades de aprendizagem, como a dislexia. Além disso, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe) oferece cursos de inclusão, em que professores aprendem a reconhecer as diferenças dos alunos e a trabalhar a socialização e a aprendizagem.
Na rede pública de ensino, as Escolas são atendidas por equipes especializadas de apoio à aprendizagem, ligadas à Subsecretaria deEducação Básica da Secretaria de Educação, lotadas prioritariamente em Escolas de ensino infantil, fundamental e em centros de ensino especial. Escolas que não contam com acompanhamento fixo podem solicitar atendimento aos Núcleos de Monitoramento Pedagógico das regionais de ensino, que encaminharão as demandas às equipes especializadas.
A Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape) oferece, em seus cursos para professores da rede pública, orientações técnicas para atendimento de alunos com deficit de aprendizagem. Profissionais interessados em cursos e orientações específicas também podem entrar em contato os coordenadores de formação da Eape.
Dislexia
Algumas indicações
» Parentes próximos (até terceiro grau) que tenham dislexia
» Atraso na fala
» Troca de sílabas, dificuldade de diferenciar direita/esquerda, par/ímpar, informações sequenciais (como números e palavras), cores, dificuldade
em aprender músicas
» Falta de interesse por livros, desconcentração, dificuldade de socialização
Como ajudar
» Conteúdos da Escola devem ser revistos sempre, com ajuda do professor e com os pais
» Peça que a criança repita a ordem e o conteúdo com suas próprias palavras do que foi lido ou explicado, para estimular a memorização, grande aliada do disléxico
» Use material colorido e grande para aprendizado de letras e números
» Tenha paciência para que a criança cumpra suas tarefas, repetindo o comando se for necessário
» Encoraje a criança a solicitar ajuda e não ter vergonha de fazê-lo
» professores e amigos devem conhecer as limitações da criança e estimular seu aprendizado sem discriminação ou interferência em sua autonomia
» Enfatize as habilidades que a criança desenvolve em outras áreas
» Leia para seu filho, todos os dias, jornais e revistas de interesse
» Permita que use um apoio, como uma régua, para ler as linhas em sequência
» Encoraje a criança a deixar bilhetes ou avisos e a escrever cartinhas para amigos e familiares, sem se importar como isso será feito
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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