Linguista atribui à ''ignorância'' críticas sobre livro didático
Raiana Ribeiro
Nos últimos dias, a polêmica em torno do livro didático Por uma vida melhor, destinado à Educação de Jovens e Adultos (EJA), reacendeu o debate sobre o preconceito linguístico ainda presente no país. Em um capítulo sobre as diferenças entre a norma culta e a popular da língua portuguesa, a obra afirma que a expressão “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado” pode ser usada em determinadas situações.
O texto adverte, no entanto, que ao adotar esta formulação “corre-se o risco de ser vítima de preconceito linguístico” e finaliza afirmando que o falante “tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”. Descontextualizado, o trecho foi parar em vários veículos de imprensa e o livro passou a ser criticado por “ensinar” os estudantes a falarem errado.
O livro foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Por meio dele, o Ministério da Educação (MEC) avalia obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias e professores façam suas escolhas.
Para analisar o tema, o Portal Aprendiz entrevistou o escritor, professor e linguista, Marcos Bagno. Autor de vários estudos acadêmicos sobre o ensino da língua portuguesa no Brasil, há anos Bagno se dedica a investigar a variação linguística e os preconceitos que decorrem dela. Seu livro,Preconceito linguístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola), lançado em 1999, é considerado um dos principais registros sobre o assunto no Brasil.
Portal Aprendiz: A que o senhor atribui tamanha polêmica em torno do capítulo que trata da variação linguística no livro didático Por uma vida melhor?
Marcos Bagno: Atribuo a, nada mais nada menos, do que à ignorância generalizada na nossa “grande imprensa” acerca do que é uma língua e do que significa ensiná-la. Nossos jornalistas ainda acreditam numa concepção arcaica, pré-científica de língua como “gramática normativa” e quando topam com uma concepção avançada, contemporânea, levam um susto.
Portal Aprendiz: Alguns críticos do livro alegam que o material estaria “ensinando” os estudantes a falarem errado, o que representaria um retrocesso para a educação brasileira. Como o senhor encara essas afirmações?
Bagno: Encaro, novamente, como ignorância de quem as pronuncia. Parece que 101% dos que criticaram o livro simplesmente não o leram ou, pior, se leram, não entenderam. Em momento algum o livro quer “ensinar” a falar errado, simplesmente porque não é preciso. Todos os brasileiros (inclusive os que se acham muito letrados) usam regras gramaticais que contrariam as prescrições tradicionais. Não é preciso ensinar ninguém a dizer “os livro” porque já é assim que todos nós falamos (inclusive os que se acham muito cultos, porque temos um grande acervo de língua falada gravada em que esses falantes exibem precisamente os usos do tipo “os livro”). O livro da professora Heloísa Ramos quer ensinar, isso sim, as formas prestigiadas de falar e de escrever, ou seja, quer ampliar o repertório linguístico dos aprendizes.
Portal Aprendiz: Como o senhor acredita que este tema pode ser abordado em sala de aula?
Bagno: Como já vem sendo abordado há cerca de 20 anos. Demonstrar a lógica das variedades não-padrão já faz parte do conteúdo curricular de língua portuguesa há um bom tempo. Só mesmo os que não sabem nada de ensino podem se espantar. Para quem trabalha com educação e linguagem, já se trata de ponto pacífico.
Portal Aprendiz: Como o preconceito linguístico afeta os estudantes nos dias de hoje, sobretudo jovens e adultos (público-alvo do livro em questão)?
Bagno: O preconceito linguístico afeta a todos nós, mas evidentemente é mais pesado sobre as pessoas que usam variedades linguísticas mais distantes dos falares urbanos de prestígio. Justamente para combater o preconceito linguístico é que temos de dizer a todo mundo que é impossível falar sem seguir regras, mas que um conjunto muito restrito dessas regras foi eleito (por razões meramente políticas e sociais) para se tornar o padrão. E uma vez que esse padrão é cobrado em instâncias importantes da vida social, temos que ensiná-lo explicitamente aos nossos alunos.
Portal Aprendiz: Qual o saldo desse debate? Houve algum avanço a partir dos questionamentos levantados?
Bagno: Infelizmente não. A grande mídia, como é de seu costume, não dá espaço para quem discorda dela. E quando dá espaço é sob a hipocrisia da “imparcialidade”, sempre colocando ao lado da opinião dos verdadeiros especialistas a opinião de quem não entende nada da matéria.
O texto adverte, no entanto, que ao adotar esta formulação “corre-se o risco de ser vítima de preconceito linguístico” e finaliza afirmando que o falante “tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”. Descontextualizado, o trecho foi parar em vários veículos de imprensa e o livro passou a ser criticado por “ensinar” os estudantes a falarem errado.
O livro foi selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Por meio dele, o Ministério da Educação (MEC) avalia obras apresentadas por editoras, submete-as à avaliação de especialistas e depois oferece as aprovadas para que secretarias e professores façam suas escolhas.
Para analisar o tema, o Portal Aprendiz entrevistou o escritor, professor e linguista, Marcos Bagno. Autor de vários estudos acadêmicos sobre o ensino da língua portuguesa no Brasil, há anos Bagno se dedica a investigar a variação linguística e os preconceitos que decorrem dela. Seu livro,Preconceito linguístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola), lançado em 1999, é considerado um dos principais registros sobre o assunto no Brasil.
Portal Aprendiz: A que o senhor atribui tamanha polêmica em torno do capítulo que trata da variação linguística no livro didático Por uma vida melhor?
Marcos Bagno: Atribuo a, nada mais nada menos, do que à ignorância generalizada na nossa “grande imprensa” acerca do que é uma língua e do que significa ensiná-la. Nossos jornalistas ainda acreditam numa concepção arcaica, pré-científica de língua como “gramática normativa” e quando topam com uma concepção avançada, contemporânea, levam um susto.
Portal Aprendiz: Alguns críticos do livro alegam que o material estaria “ensinando” os estudantes a falarem errado, o que representaria um retrocesso para a educação brasileira. Como o senhor encara essas afirmações?
Bagno: Encaro, novamente, como ignorância de quem as pronuncia. Parece que 101% dos que criticaram o livro simplesmente não o leram ou, pior, se leram, não entenderam. Em momento algum o livro quer “ensinar” a falar errado, simplesmente porque não é preciso. Todos os brasileiros (inclusive os que se acham muito letrados) usam regras gramaticais que contrariam as prescrições tradicionais. Não é preciso ensinar ninguém a dizer “os livro” porque já é assim que todos nós falamos (inclusive os que se acham muito cultos, porque temos um grande acervo de língua falada gravada em que esses falantes exibem precisamente os usos do tipo “os livro”). O livro da professora Heloísa Ramos quer ensinar, isso sim, as formas prestigiadas de falar e de escrever, ou seja, quer ampliar o repertório linguístico dos aprendizes.
Portal Aprendiz: Como o senhor acredita que este tema pode ser abordado em sala de aula?
Bagno: Como já vem sendo abordado há cerca de 20 anos. Demonstrar a lógica das variedades não-padrão já faz parte do conteúdo curricular de língua portuguesa há um bom tempo. Só mesmo os que não sabem nada de ensino podem se espantar. Para quem trabalha com educação e linguagem, já se trata de ponto pacífico.
Portal Aprendiz: Como o preconceito linguístico afeta os estudantes nos dias de hoje, sobretudo jovens e adultos (público-alvo do livro em questão)?
Bagno: O preconceito linguístico afeta a todos nós, mas evidentemente é mais pesado sobre as pessoas que usam variedades linguísticas mais distantes dos falares urbanos de prestígio. Justamente para combater o preconceito linguístico é que temos de dizer a todo mundo que é impossível falar sem seguir regras, mas que um conjunto muito restrito dessas regras foi eleito (por razões meramente políticas e sociais) para se tornar o padrão. E uma vez que esse padrão é cobrado em instâncias importantes da vida social, temos que ensiná-lo explicitamente aos nossos alunos.
Portal Aprendiz: Qual o saldo desse debate? Houve algum avanço a partir dos questionamentos levantados?
Bagno: Infelizmente não. A grande mídia, como é de seu costume, não dá espaço para quem discorda dela. E quando dá espaço é sob a hipocrisia da “imparcialidade”, sempre colocando ao lado da opinião dos verdadeiros especialistas a opinião de quem não entende nada da matéria.
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Um comentário:
SILVANA, Boa NOITE.
Meu nome é João Kenedy de Carvalho, sou estudante do curso de Letras, na Faculdade Teresa D’Ávila- FATEA, no Município de Lorena- SP estou no último ano e busco realizar minha pesquisa de conclusão de curso na área da Sociolinguística.
Tenho lido diversos trabalhos inclusive livros que você MARCOS BAGNO escreveu, “ A LÍNGUA DE EULÁLIA”, “PRECONCEITO LINGUÍSTICO “ e “ A LÍNGUA, A MÍDIA E A ORDEM DO DISCURSO”, realmente este é um tema muito interessante e pouco desdobrado, tenho conversado com minha Orientadora e cada vez mais tenho criado para mim conceitos sobre a importância da língua falada. Irei aprofundar minha pesquisa voltando-me diretamente ao preconceito que diversas pessoas sofrem por desconhecerem as regras da língua padrão.
Trarei à luz da discussão a proposta do PNLD do MEC, o livro “POR UMA VIDA MELHOR”, ainda não tive a chance de tê-lo em minhas mãos, por este motivo venho a escrevê-lo pedindo que você me indique alguma editora, ou mesmo uma pessoa que possa me ajudar nesta dificuldade.
Certo de sua compreensão e atenção desde já agradeço.
MEU E-MAIL É jotaca47@gmail.com
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