Imagem: Codinome Beija-Flor |
Silvana M. Moreli
As unhas estão
cheias de terra das muitas tentativas de vencer o abismo
Das muitas vezes
que chegando ao topo, se é lançado de volta para o fundo
Aquele que nunca
chega: o fundo da base do mundo
Dos ressentimentos
- vis sentimentos, de amargura e dor
Rasgo o peito com
o ímpeto de um animal
Indócil, valente,
sagaz, destemido, irracional
Quero minha vida
de volta, quero meu corpo e minha alma
Há em mim a
angústia do retorno, a espera da calma
A insanidade
miserável de quem já foi, virou passado
Não há aurora na
escuridão calada do meu coração
Há uma dor que
teima em doer e uma lágrima que teima em cair
Uma voz rouca
escondida por trás de um grito abafado
Não quero
migalhas, restos, pedaços, quero tudo por inteiro
Escancara os meus
defeitos (que não são poucos),
Jogue-os junto a
mim, no chão imundo da minha consciência
Atire-os contra
mim, um a um como pedras: apedreje-me!
Mas não lance
sobre mim uma punição eterna:
A de não mais
sentir a sua presença,
A de não sentir seu
perfume passeando pela minha lembrança
A morte poderia
até ser um alívio a este corpo sedento de descanso,
Caso ele já não estivesse
morto
Morri tão logo
suas mãos soltaram as minhas
Morri tão logo
seus lábios recusaram-se a dizer o adeus que seus olhos já diziam
Volto-me para
dentro de mim. Silencio
Vejo, à distância,
a poeira levantada no caminho...
Vai dissipando
lentamente junto aos meus pensamentos...
Reminiscências de
uma vida – esta que parece outra
Vejo sumindo ao
longe, a imagem, o pensamento,
O sonho, a poesia,
a poeira, a esperança, o amor...
Vejo, à distância,
o peso da mentira,
A omissão que
virou pecado,
O pecado que virou
doença
A doença que virou
saudade
A saudade que
virou culpa
A culpa que virou
espera...
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