Avaliação de professor não garante melhora, diz pesquisador
FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo
As provas que determinarão quais professores da rede estadual paulista receberão aumento salarial por mérito serão aplicadas no início de fevereiro. Segundo o governo, os docentes farão os exames nos dias 3 e 4. No primeiro dia serão examinados os professores do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. No dia seguinte, os demais farão a prova. Diretores e supervisores serão avaliados em 31 de janeiro.
Segundo a lei, sancionada ontem pelo governador José Serra (PSDB), até 20% dos docentes mais bem avaliados receberão 25% de reajuste nesta primeira etapa do projeto. Ao longo da carreira (25 anos), o professor poderá quadruplicar seu salário inicial, caso esteja sempre entre os mais bem avaliados. Ele poderá tentar o aumento a cada três anos.
A premiação com base em avaliações é um conceito interessante, mas ainda não há evidências de que seja efetiva, afirma Gustavo Iaies, ex-vice-ministro da Educação da Argentina e presidente da Cepp (Centro de Estudos de Políticas Públicas, com sede em Buenos Aires).
Pesquisador de sistemas educacionais da América Latina, Iaies diz que o projeto aprovado pelo governo paulista poderia receber alguns ajustes.
FOLHA - Como o sr. avalia a proposta aprovada em São Paulo?
GUSTAVO IAIES - É um conceito que, acima da discussão de quais resultados trará, é justo. Concordo com a diferenciação entre os professores, o que considera a superação individual. É um valor presente em nossas vidas. Além disso, precisamos buscar mecanismos de melhora, formas que estimulem os docentes a se esforçarem.
Um ponto que eu mudaria é a forma de avaliação. Prefiro o método de incentivos para a escola. O motor da melhora educacional é a instituição, o coletivo. Por isso, deve-se premiar as melhores escolas [método que o governo adota para o pagamento de bônus anual, mas não para o novo plano de salários].
FOLHA - Com base em experiências de outros países da América Latina, como o sr. analisa a ideia de avaliar e premiar os melhores professores?
IAIES - As experiências ainda são muito recentes para tirarmos conclusões. A única que possui mais de 20 anos é a cubana. Mas, em tese, concordo em premiar os melhores.
FOLHA - Quais são as experiências desse tipo na região?
IAIES - A avaliação é adotada com diferentes objetivos. No Chile [país com os melhores indicadores], busca-se melhora das práticas docentes. Aqueles que não atingem os objetivos passam a ser acompanhados por um tutor, inclusive durante as aulas. Na Colômbia e no Equador, busca-se instalar a ideia do mérito, com base em resultados em provas aplicadas aos professores.
No México, a avaliação considera a aprendizagem dos alunos e há incentivos financeiros aos docentes.
Os sistemas educacionais foram criados originalmente para difundir a ideia de nação e transmitir conhecimentos mínimos para um mercado de trabalho que não exigia muitas competências. Buscar qualidade de ensino é uma operação monumental para os nossos sistemas.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u644423.shtml
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