Entre os dez colégios com pior desempenho no exame em 2009, nove ficaram com nota mais baixa na redação
Refletir sobre um tema, elencar argumentos e colocar as próprias ideias no papel é um dos maiores desafios dos brasileiros. Perceptível para quem está na sala de aula e confirmado por avaliações. Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) comprovam a constatação de professores e especialistas: a redação ainda é um bicho-papão para muitos.
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Entre as 50 escolas com pior desempenho no Enem em 2009, de acordo com ranking que considerou apenas os colégios que obtiveram médias globais (que considera médias das provas objetivas e da redação), 96% (48) ficaram com médias mais baixas quando a redação foi considerada. Entre as dez piores, a nota da redação foi a mais baixa entre todos os testes.
As provas do Enem mudaram no ano passado. Em lugar da prova única com questões objetivas de diferentes disciplinas e atualidades, os estudantes fazem quatro testes distintos: matemática, ciências da natureza, língua portuguesa e ciências humanas. A redação, exigida no modelo anterior, foi mantida.
Com isso Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela elaboração e aplicação das provas, divulgou médias globais e médias em separado para cada área e redação. O iG elaborou o ranking com base nas médias totais de cada escola do ensino médio regular (consulte lista completa das escolas ao final da reportagem).
Nos casos em que menos de dez alunos fizeram a redação, não há nota global disponível, por isso, não estão no ranking do iG. O mesmo acontece com as escolas cuja taxa de participação – relação entre o número de matriculados no terceiro ano na escola e a quantidade de participantes no Enem – foi inferior a 2% e nos estabelecimentos em menos de dez alunos foram avaliados.
A Escola Estadual Indígena Dom Pedro I, que ficou na lanterninha do ranking, não obteve nem 150 pontos na média da redação. Conseguiu apenas 141,88 pontos, apesar de 40 de seus 58 estudantes matriculados terem feito a avaliação. No restante das provas, o colégio ficou com médias acima de 300. Mesmo em língua portuguesa, que foi a segunda menor nota: 319,26. Com isso, a média global da escola despencou.
Nas outras oito escolas em que a redação foi a nota mais baixa, as médias ficaram acima de 200 pontos. Mas, na maioria, bem abaixo das demais notas. Nelas, os resultados das redações diminuíram as médias totais. O Colégio Estadual Professora Juvenília Soares Sousa, localizado no município de Buriticupu no Maranhão, segundo pior no ranking, ficou com média 281,25 na redação. A segunda menor média foi em ciências da natureza: 392,48 pontos.
A terceira escola na lanterninha é do município de Argirita, em Minas Gerais. A Escola Estadual Luiz Antonio Pires de Souza teve uma diferença ainda mais gritante entre as médias da redação e da segunda pior nota, em matemática: 219,44 pontos. Na primeira avaliação, os 10 dos 23 estudantes matriculados na escola que fizeram o Enem tiraram 235 pontos de média. Em matemática, 454,44 pontos.
O Maranhão foi o Estado que mais teve escolas nessa lista das dez piores: o Juvenília Sousa, o Colégio Estadual Cristino Pimenta – Anexo II e o Colégio Estadual Livino de Sousa Resende – Anexo Creolizinho. Em todos, os alunos apresentam dificuldade para se expressar. Vera Lúcia Gonçalves, supervisora de avaliação educacional da Secretaria de Educação do Estado, admite as deficiências. “O maior problema da educação, não só maranhense, é a dificuldade dos alunos em ler e escrever”, afirma.
Para tentar mudar essa realidade, algumas políticas foram adotadas. A primeira é o investimento na formação dos professores. “Como vamos ensinar um aluno a ter hábito de ler, se o próprio professor não tiver? Nossa formação ainda é falha”, admite Vera Lúcia. Ela ressalta que a realidade das piores escolas é peculiar: são escolas pequenas, em área rural, e os meninos, na maioria, estão atrasados nos estudos. “Os resultados não são bons, não nos deixam dormir direito. Eles estão aí e servem para orientar nossas políticas”, garante.
Língua portuguesaOs resultados de outros exames, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a Prova Brasil, também demonstram as deficiências de aprendizado dos alunos em língua portuguesa. As proficiências obtidas pelas escolas públicas e privadas nessa área na Prova Brasil em 2009 foram menores que em matemática. Os alunos do ensino médio das privadas obtiveram 329 pontos em matemática e 310 em português. Na rede pública, 266 e 262, respectivamente.
O Enem 2009 também mostrou que, mesmo nas melhores escolas, o desempenho em língua portuguesa foi o mais baixo nos dez melhores colégios. Menor do que a nota da redação.
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