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domingo, junho 27, 2010

DESAFIOS E ANGÚSTIAS DO PROFESSOR

25/06/2010 - Gazeta do Povo (PR)

Desafios e angústias do professor



A Escola é responsável para estimular o desejo pelo saber e a transmissão de conhecimento, despertar na criança e no adolescente o gosto pela leitura e pelas ciências - Celso Wesley Ribas





Celso Wesley Ribas 

É mais democrática uma sociedade, em que os cidadãos decidem sobre os caminhos a seguir, pelo menos nas questões mais importantes e que mexem diretamente com a vida de todos – como saúde, Educação, transporte coletivo, Lei de Diretrizes Orçamentárias, segurança pública, geração de emprego e renda. 

Estamos numa sociedade pouco democrática e com muitas injustiças sociais, onde a maioria das decisões têm sido tomadas diretamente pelos “políticos” e os cidadãos ficam à mercê da boa vontade desses indivíduos. 

A história tem mostrado que, sem participação popular, não há transformação social. É por isso que a participação de todo cidadão nas discussões e decisões políticas – participando, questionando e reivindicando – é muito importante para que a sociedade encontre alternativas que possam acabar com as injustiças sociais. Infelizmente há muitas injustiças e uma das maiores delas ocorre, justamente, contra aqueles que são responsáveis pelo desenvolvimento intelectual e até moral da nação – os professores. 

A Escola é responsável para estimular o desejo pelo saber e a transmissão de conhecimento, despertar na criança e no adolescente o gosto pela leitura e pelas ciências. Porém os pais também são responsáveis pela Educação de seus filhos. 
“(...) a inversão de valores, que provocou a falta de limites das crianças deteriorando a autoridade doprofessor, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, se transferiram para a Escolaatribuições tradicionais da família, tornou o professor uma espécie de refém da família, da sociedade e das decisões educacionais equivocadas. Assim, a falta de disciplina e de motivação das crianças tornaram-se, em consequência, dois dos maiores problemas dos educadores.” 
(Tania Zagury, pioneira na discussão do papel dos limites na Educação). 

Além disso, o Estado tem se omitido diante das circunstâncias, e muitos ocupantes de cargos políticos não demonstram nenhuma preocupação com a situação dos professores. Suas políticas públicas para a Educação são paliativas e de cunho eleitoreiro, ainda segundo Tania Zagury, há “(...) falta de empenho e de vontade política, uso inadequado de verbas públicas, precariedade de instalações e infraestrutura, remuneração docente inqualificável etc. Além do mais, rotineira e ciclicamente, sabemos, elas voltam à baila (e continuarão a voltar) sob a forma de discursos belíssimos e inflamados, especialmente quando se aproximam as eleições em quaisquer níveis”. 


Para muitos, o desenvolvimento econômico deve ser um fim em si mesmo. Não importa se a Escola está falindo, se os professores estão sob pressão, o importante é haver crescimento econômico. Ou seja, a Educação continua em segundo, terceiro ou quarto plano nos programas de governo e nos orçamentos públicos. Os professores não podem contar com o Estado e com os “políticos”. O professor é refém de um sistema descomprometido com a Escola pública. 

Fala-se tanto em uso de novas tecnologias na Escola, mas nada é feito para diminuir o excesso de alunos na sala de aula. Fala-se tanto em novas propostas pedagógicas e colocam-se em prática muitos poucos projetos pedagógicos, mas a indisciplina toma conta do ambiente Escolar e a impunidade impera na consciência do aluno de Escola pública. 

A sociedade deve tomar consciência da situação enfrentada pelos docentes. E os pais precisam entender que a qualidade do ensino, ou seja, a boa qualidade do ensino oferecida na Escola que seus filhos estudam, está intimamente ligada ao bem-estar dos professores. 

Inspirado na célebre frase de Paulo Freire “Ninguém liberta ninguém, as pessoas se libertam em comunhão”, o Movimento Respeito e Dignidade tem reunido professores que atuam em sala de aula, levando-os a discussão e reflexão sobre os seus desafios e angústias, e a necessidade da organização política da categoria, capaz de reivindicar e exigir das autoridades políticas o respeito à sua saúde, ao seu profissionalismo e ao magistério. 

Há um imenso desafio, cada personagem tem o dever de exercer o seu devido papel – que o Estado e a família cumpram com a sua tarefa e não deleguem aos professores as suas responsabilidades. Para que os professores possam, prazerosamente, exercer o seu magistério numa Escola agradável para o convívio e o aprendizado de nossas crianças e adolescentes. 

* Celso Wesley Ribas, historiador, é professor de História e membro do Movimento Respeito e Dignidade, que atua pela melhora da qualidade de ensino no Paraná. 
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